Projeto Pro_Leitura
Projecto desenvolvido pelo Centro de Recursos do CFPIMM que visa a valorização do Livro e da Leitura
Os livros, as crianças e os pais
Todos conhecemos a importância que os professores, os educadores e as bibliotecas têm no desenvolvimento do gosto pelo livro e na promoção da leitura junto das crianças e dos jovens. A paixão pêlos livros pode e deve começar na mais tenra idade. Nesta área, a família tem um papel funda-mental a desempenhar.
10 sugestões para reflectir e promover a leitura:
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Dê o exemplo e leia: as crianças gostam de imitar os adultos, por isso deixe que o vejam a ler.
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Arrume os livros em locais acessíveis e permita que as crianças lhes toquem, mesmo que não os saibam ler.
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Transforme os momentos de leitura em magníficas ocasiões para estreitar os laços familiares: deixe a criança explorar à sua maneira as imagens dos livros, repetir as palavras, voltar atrás. Será bom criar suspenso, adequar o tom de voz à situação descrita, entrar com a criança na magia da leitura.
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Leia-lhes livros em voz alta, pronunciando as palavras o mais cor-rectamente possível e com bastante expressividade. As crianças também aprendem por ouvirem ler bem.
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Seja paciente: se a criança lhe pedir para ler sempre o mesmo livro ou se quando chegar ao fim, ela pedir “outra vez!”, faça-lhe a vontade, mesmo que seja aborrecido para si: a repetição facilita a memorização e a aquisição da noção de sequencialidade.
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Leia-lhes pelo menos uma história por dia: as crianças que lêem ou ouvem ler serão potenciais bons leitores e desenvolverão capacidades fundamentais como a imaginação e a criatividade.
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Leve-as à biblioteca municipal: as bibliotecas promovem actividades de promoção da leitura e despertam a curiosidade para o mundo dos livros.
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Entre com as crianças em livrarias como entra nas outras lojas, porque assim sentirão que o livro é útil para a vida.
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Aproveite o aniversário das suas crianças ou dos amiguinhos para oferecer livros: elas vão considerar que os livros são motivo de satisfação e alegria. Os livros são das melhores prendas que se podem dar.
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Seleccione os livros tendo sempre em conta a idade das crianças: deve haver uma excelente adequação entre o tema abordado, a linguagem utilizada e o estádio intelectual da criança.
Ode à Madeira
in Odes Elementares, Pablo Neruda
Ai, daquilo que conheço
e reconheço
entre todas as coisas é a madeira
a minha melhor amiga.
Levo comigo, pelo mundo,
no meu corpo, na minha roupa,
aroma
de serração,
odor de tábua vermelha.
Na minha infância
o meu peito e os meus sentidos
impregnaram-se
de árvores que tombavam
de grandes bosques plenos
de construção futura.
Ouvi o rumor de quando abanavam
o gigantesco
larício,
o alto loureiro de quarenta metros.
O machado e a cintura
do minúsculo lenhador
subitamente lascam
a sua arrogante coluna,
o homem vence e tomba
a coluna de aroma,
a terra estremece, um surdo
trovão, um negro soluço
de raízes, e então
uma onda
de odores florestais inunda os meus sentidos.
Foi na minha infância, foi sobre
a húmida terra, longe,
nas selvas do sul,
nos fragrantes verdes
arquipélagos
que foram nascendo comigo
as vigas,
as travessas,
espessas como o ferro,
tábuas,
delgadas e sonoras.
A serra rangia
cantando os seus amores de aço,
uivava o agudo fio,
o lamento metálico
da serra cortando
o pão do bosque
como uma mãe no parto,
e dava à luz no meio
da luz
e da selva
rasgando as entranhas
da natureza,
parindo
castelos de madeira,
habitações para o homem,
escolas, ataúdes,
mesas e cabos de machados.
Tudo
ali dormia,
no bosque,
sob as folhas molhadas,
quando
um homem
começava
a agitar a cintura,
erguendo o machado,
a lacerar a pura
solenidade da árvore
e esta
desabava,
estrondo e fragância desabavam
para que assim surgisse
a construção, a forma,
o edifício,
das maõs do homem.
Madeira, vi-te nascer,
conheço-te e amo-te.
Por isso
se te toco
reages
como um corpo amado,
mostras-me
os teus olhos e os teus nervos,
os teus nós, os teus sinais,
os teus veios
como imóveis rios.
Eu sei
o que eles
cantaram
com a voz do vento,
escuto
a noite tempestuosa,
o galope
do cavalo na floresta,
toco-te e tu desfolhas-te
como uma rosa murcha
que só para mim ressuscitasse
dando-me
o aroma e o fogo
que pareciam mortos.
Debaixo da sórdida pintura
adivinho os teus poros,
estrangulada clamas por mim
e eu escuto-te,
sinto
as árvores
que assombraram a minha infância
ondularem,
vejo
sair de ti,
como um voo de oceano
e pombas,
as asas dos livros,
o papel
futuro,
o papel puro para o homem puro,
que existirá amanhã
e que hoje está nascendo
com um ruído de serra,
com uma explosão
de luz, rumor e sangue.
É a serração
do tempo,
desaba
a sombria floresta, sombrio
nasce
o homem,
caem as negras folhas
e o estrondo nos oprime,
falam ao mesmo tempo
a morte e a vida,
como um violino eleva-se
o canto ou o lamento
da serra no bosque,
e assim nasce e principia
a madeira,
percorrendo o mundo
até ser silenciosa construtora
cortada e perfumada pelo ferro,
até sofrer e proteger
a vivenda por ela construída
onde cada dia
se encontrarão o homem, a mulher
e a vida.